domingo, 3 de agosto de 2014

CHEGOU AGOSTO:

VAMOS CELEBRAR O 
SENHOR BOM JESUS 

 


“Meu povo, o que de mal eu te fiz 
ou em que te contristei? Responde-me!" 
(Do tradicional canto dos “Lamentos do Senhor" 
da Sexta-feira da Paixão)





 
           Deus é bom! E aplicar o adjetivo “bom” a Cristo nada mais é do que reconhecê-lo como imagem do Deus invisível, isto é, atestar nossa fé na divindade de Jesus, Filho Unigênito do Pai. O próprio Jesus nos desafia, como aquele homem rico do Evangelho, a perceber que Ele é Deus; e, se Deus é bom, o Cristo é a bondade do Pai entre nós, o BOM Jesus: Só Deus é bom, e ninguém mais” (Lc 18,19). A bondade divina revelada em Jesus, o Senhor, enviado pelo Pai para dar a vida em benefício de nossa humanidade pecadora, levou o povo de Deus, em sua sábia piedade, a chamá-lo de SENHOR BOM JESUS.
        Surge, então, a devoção popular ao Cristo da Paixão, Servo Sofredor, com grande ressonância em Portugal, na Espanha, na Itália e, mais tarde, a partir do período colonial, na América Latina. Daí decorrem inúmeros “títulos” acrescidos à invocação “Senhor Bom Jesus”, recordando os momentos de seu martírio: a agonia (Senhor Bom Jesus do horto, das oliveiras); a flagelação (da coluna, da pedra fria, da paciência); a sua apresentação por Pilatos ao povo com a expressão latina “Ecce homo” – “Eis o homem!” – (da cana verde, do livramento, dos aflitos, da boa sentença, da prisão, Santo Cristo dos milagres); o caminho para o Calvário (dos Passos); a crucificação (do bonfim, da lapa, de matosinhos, da boa morte, do descimento, da pobreza, da agonia, dos remédios, dos montes) e, finalmente, o sepultamento (Senhor Morto). Evidentemente, todas as representações iconográficas (imagens) desses “títulos” do Senhor Bom Jesus apresentam suas particularidades e aludem ao episódio bíblico que retratam ou aos atributos e adornos que o Cristo traz ou com os quais é revestido (o manto de cor púrpura, a cana e a coroa de espinhos, por exemplo). A invocação, ainda, pode conter o nome dos lugares onde a devoção se desenvolveu: Cangaíba, Brás, Jd. das Oliveiras, Guarulhos, Pirapora, Iguape, Tremembé, Perdões, Itu, Arujá, Mairiporã, Paranapiacaba, Lapa, Bonfim, Matosinhos, Açores, Braga, Buga etc. Fogem a essas características que evocam o drama da Sexta-feira Santa o “Senhor Bom Jesus de Nazaré” e algumas imagens do “Senhor Bom Jesus dos Navegantes”.
     As devoções e as imagens do Cristo sofredor, tão evidentes no período quaresmal e nas solenidades da Semana Santa, ganham visibilidade também fora desse tempo, quando se dão as Festas em honra do Senhor Bom Jesus, que, embora cultuem a Paixão do Salvador, estão desprovidas daquele espírito de recolhimento e luto próprio desde as Cinzas até a Sexta-feira Santa. Pelo contrário, tais Festas revestem-se de um efusivo sentimento de alegria popular (por vezes até se distanciando do religioso e “esbarrando” naquilo que é profano durante as comemorações de rua).
        Com raras exceções, as Festas do Senhor Bom Jesus, tão tradicionais e cheias de lendas, “causos” e pagamento de promessas, se dão aos 06 de agosto ou aos14 de setembro. E há razões teológicas para isso, além, é claro, de uma série de motivações históricas. 06 de agosto é a Festa Litúrgica da “Transfiguração do Senhor”. Ora, a Transfiguração de Cristo já prefigurava a sua Ressurreição, mas era necessário que Ele, primeiramente, passasse pela paixão e morte que teriam lugar em Jerusalém, tal como conversavam Elias e Moisés com o Mestre no Monte Tabor. Isso nos permite estabelecer uma correlação entre o Cristo glorioso (transfigurado) e o Cristo padecente (desfigurado) – o “Senhor Bom Jesus”. Já em 14 de setembro, é celebrada a Festa Litúrgica da Exaltação da Santa Cruz. Por razões óbvias, a essência dessa comemoração da Liturgia vai ao encontro do culto popular ao Cristo crucificado, o “Senhor Bom Jesus”. Ademais, o Senhor Bom Jesus dos Passos e o Senhor Morto são reverenciados, mormente, durante as procissões quaresmais ou da Semana Santa.
    Acorramos, pois, peregrinos e penitentes, em romarias ou solitariamente, às catedrais, às basílicas, aos santuários, às matrizes, às capelas e aos altares dedicados ao Senhor Bom Jesus, por vezes erigidos em regiões altaneiras, mais próximas do céu e convidativas à oração! E diante das suas venerandas imagens, comumente milagrosas, encontremos, apesar de suas feições tão queixosas e agonizantes, abondade de Deus feito homem, que, tendo passado pela cruz nesta vida, conforta-nos, acolhe ternamente e dá esperança, a nós que também padecemos neste mundo, recordando-nos que, com Ele, chegaremos à Ressurreição! Eis aí fascínio que o Senhor Bom Jesus exerce sobre seu povo mais oprimido, todavia cheio da alegria do Evangelho!

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